Presidente da CICA: Por que melhores processos de licenciamento, colaboração e financiamento são essenciais para solucionar os maiores problemas da construção global

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Independentemente de onde estejam localizadas, existem certos desafios comuns às empresas de construção em todo o mundo.

Entre eles, estão os problemas da lentidão ou complexidade dos processos de licenciamento, a persistente escassez de mão de obra, as condições financeiras apertadas e uma crise mundial de acessibilidade à habitação.

Esses são alguns dos desafios que Juan Armando Vicuña está se empenhando em resolver durante seu mandato como presidente da Confederação das Associações Internacionais de Empreiteiros (CICA).

Vicuña, que também é membro do conselho da construtora chilena RVC Co, conversou com o Construction Briefing durante a conferência anual da CICA em Paris, no mês passado, que teve como tema central a urbanização e o desafio de construir cidades resilientes e dinâmicas.

Ele discutiu a trajetória de sua presidência e suas prioridades, incluindo um esforço para simplificar os sistemas de licenciamento e defender uma maior ênfase no financiamento imobiliário:

Olhando para trás, para os seus primeiros 12 meses, quais considera serem as conquistas ou os progressos mais significativos alcançados durante o seu mandato como presidente da CICA?
Juan Armando Vicuña, discursando na conferência anual da CICA em Paris, 21 de novembro de 2025. Juan Armando Vicuña, discursando na conferência anual da CICA em Paris, 21 de novembro de 2025 (Imagem cedida pela CICA)

No campo das relações internacionais, um ano é um período relativamente curto; no entanto, gostaria de destacar a admissão de novos países membros, o que naturalmente fortalece nossa representatividade. Gostaria também de mencionar os gentis convites que recebi para participar de conferências em países não membros, onde esperamos continuar construindo relacionamentos que possam, eventualmente, levá-los a se juntar à nossa organização.

Em termos de trabalho concreto, temos promovido ativamente o uso de contratos colaborativos na América Latina e apoiado os bancos multilaterais de desenvolvimento (BMDs) na divulgação de seus projetos entre as empresas da região, com o objetivo de aumentar a concorrência em seus processos de licitação.

Outro ponto que vale a pena destacar é que nossos grupos de trabalho incorporaram novos temas em suas agendas, que consideramos de grande relevância, como o uso de inteligência artificial (IA) na construção civil, a defesa da simplificação dos sistemas de licenciamento e o enfrentamento da crise global de acessibilidade à moradia. Essa questão, em particular, tem um impacto direto na infraestrutura urbana, que muitas vezes não se concretiza porque a construção de novas moradias continua insuficiente.

Em que áreas você acha que ainda precisam de mais atenção e quais são suas prioridades para o restante do seu mandato?

Como mencionei anteriormente, a simplificação dos sistemas de licenciamento é essencial para a entrega de infraestrutura dentro do prazo. Essa questão é tão crítica que a OCDE organizou o recente Simpósio "Simplificando para o Sucesso" justamente para refletir sobre o que deve ser feito em relação aos processos de licenciamento. Acreditamos firmemente que é possível manter altos padrões de qualidade, sustentabilidade e segurança, ao mesmo tempo que se dispõe de procedimentos rápidos, transparentes, digitalizados e proporcionais ao nível de risco que visam mitigar. Ao discutir produtividade, o foco geralmente recai sobre o uso da tecnologia nas empresas, mas um elemento fundamental é aprimorar os processos que envolvem o setor público.

A segunda área que exige nossa total atenção é a crise global de acessibilidade à habitação, que agora se espalhou por todos os continentes. Precisamos urgentemente entender e compartilhar as melhores práticas internacionais para ajudar a mudar a trajetória dessa situação. A escassez de moradias gera profundos desafios sociais que podem levar várias gerações para serem resolvidos. Na CICA, queremos servir como uma plataforma onde experiências possam ser compartilhadas e alternativas possam ser propostas. Além disso, pretendemos defender que governos e bancos multilaterais de desenvolvimento (BMDs) deem maior ênfase ao financiamento habitacional.

Como você define o papel da CICA hoje na representação de empreiteiras internacionalmente?

Por um lado, pretendemos ser uma plataforma onde empresas e representantes de diferentes países possam conectar-se e encontrar oportunidades de colaboração que, de outra forma, não existiriam. Isso permite que expandam suas redes e explorem oportunidades que podem não ser imediatamente óbvias, seja por razões históricas ou geográficas. No contexto atual, em que a globalização está sendo questionada, consideramos esse papel particularmente importante.

Por outro lado, empenhamo-nos em fornecer nossas análises e recomendações aos bancos multilaterais de desenvolvimento e organizações como a OCDE. Essas organizações multilaterais abrangem uma ampla gama de setores produtivos e sociais e não são necessariamente especialistas nos desafios técnicos e financeiros enfrentados pelo nosso setor. Nosso papel, portanto, é apresentar esses desafios, cuidadosamente diagnosticados, e propor soluções que facilitem diretamente a concessão e a execução de projetos.

Acreditamos que, ao nos concentrarmos nessas duas agendas principais, podemos representar eficazmente os interesses de nossos membros.

Quais são, em sua opinião, os maiores desafios estruturais enfrentados pelas construtoras em todo o mundo?

Em qualquer lugar que você vá, a escassez de mão de obra qualificada é sempre um problema. Há algo acontecendo em nosso setor que faz com que muitos jovens se sintam menos atraídos por ele, e temos a responsabilidade de mostrar que este setor também incorpora tecnologia avançada, incluindo inteligência artificial, e, acima de tudo, que a construção civil tem um profundo impacto social, melhorando a qualidade de vida das pessoas. Acredito que esses elementos podem ser altamente motivadores para as gerações mais jovens, e precisamos comunicá-los de forma mais eficaz.

Contudo, um dos desafios mais prementes da atualidade é o aperto das condições financeiras. Precisamos de instrumentos financeiros mais inovadores capazes de atrair capital privado: seja através de garantias, mecanismos de seguros ou outras ferramentas que permitam o acesso a financiamento mais barato para novos projetos, particularmente nas áreas onde este é mais urgente. A este respeito, o financiamento verde começou a apresentar resultados positivos, pelo menos nos países desenvolvidos. No entanto, o mundo em desenvolvimento continua muito atrasado, e as regulamentações ambientais ainda são frequentemente encaradas como um custo adicional em vez de uma oportunidade para aceder a financiamento preferencial.

Por fim, gostaria de destacar a importância do planejamento de infraestrutura a longo prazo. Muitas vezes, os impactos sociais e econômicos da infraestrutura são subestimados. A infraestrutura está no cerne do desenvolvimento de um país. Quando vista sob uma perspectiva de longo prazo, a infraestrutura gera enormes benefícios para a sociedade, tanto econômica quanto socialmente. A chave é planejar estrategicamente, com uma visão de longo prazo, para evitar projetos faraônicos.

De onde você acha que é mais provável que venham os ganhos de produtividade e como as entidades do setor podem ajudar a acelerar a adoção mais ampla de novas tecnologias?

Existem várias áreas, mas gostaria de destacar três: A primeira é a simplificação dos processos de licenciamento, que já mencionei, e onde o setor público desempenha um papel fundamental. As outras duas áreas estão relacionadas ao uso de contratos colaborativos para acelerar a execução de projetos. Aqui, também existe uma responsabilidade compartilhada com o setor público, uma vez que este poderia incorporar esses contratos em seus processos de licitação, ao mesmo tempo que há o desafio de aplicá-los em licitações privadas para infraestrutura produtiva.

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